[Índice da seção]

     PONTE DOS DOIS ARCOS
     13/02/2016
     Zênia de León

     Testemunha da presença escrava e do apogeu econômico de uma época.

     Como está atualmente a ponte histórica?
     É hoje uma ruína. Abandonada a ponte espera por restauração que nunca chega; por um reconhecimento que nunca vem. Localizada próxima ao antigo Corredor das Tropas, no prolongamento da avenida São Francisco de Paula, à margem direita da avenida Ferreira Viana, é arrolada no Inventário do Patrimônio Histórico e Cultural de Pelotas. O projeto de restauração foi incluído no planejamento da Secretaria de Cultura. A obra e seu valor histórico foram apontados em junho de 1997, em reportagem pela imprensa. A ponte dos Dois Arcos registra a presença escrava em Pelotas. Foi construída em 1854, constituindo-se em um manancial de grande valor. Atualmente, sofre ação erosiva do antigo banhado do São Gonçalo.
      Este é um testemunho do apogeu econômico no tempo das charqueadas, suscitando estudos sobre a vinda do negro como escravo pelo Passo dos Negros. No período das entressafras, de maio a outubro, o escravo realizava trabalho nas olarias e construções, sendo responsáveis pelas obras das sedes das charqueadas, galpões, tanques de salga, pontes e bueiros e casarões no centro da cidade.
      A estrada do Passo dos Negros e a Ponte dos Dois Arcos constituíram-se em fatores fundamentais ao apogeu alcançado na região naquele período..
      O gado, vindo da Tablada, local de comercialização do gado, vinha pelo Corredor das Tropas, hoje Avenida São Francisco de Paula, e descia para a estrada do Passo dos Negros, sendo também "tocado" pelos tropeiros para as charqueadas das margens do Canal São Gonçalo e arroio Pelotas, pela Estrada da Costa, passando pela ponte dos Dois Arcos.
      Assim conta a história: "Para os estabelecimentos que não eram contíguos à Tablada, existia uma estrada, por mandato da Câmara, na parte central do lado oeste, ensaibrada na sua maior parte, que dava saída ao gado para os saladeiros". Ata n.° 38 - Do Livro n° 12, de Atas da Câmara de Vereadores de Pelotas, página 129 - 9 de janeiro de 1854, lê-se:"... Esta Câmara manda o fiscal da fazenda da cidade e o arruador examinar a estrada do Passo dos Negros no lugar onde se acha um grande tremedal e que apresentem o quanto antes um relatório indicando a quais espaços que precisam dessa ponte e a despesa que se deve fazer e que a câmara nomeie uma comissão para entender-se com o vereador Manoel Batista Filho a cerca da referida área, providenciando o terreno preciso para melhoramento da referida estrada. A ponte foi aprovada." Seguem-se as assinaturas de: Vicente José da Silva Maia, Dr. Serafim Róis Azevedo, José Antônio Mendonça, Joaquim José de Assumpção e Dr. Miguel Barcellos.
      A ata de 14 de janeiro de 1854, cinco dias depois de aprovada a construção da ponte diz: "A Comissão encarregada da estrada do Passo dos Negros deu a seguinte palavra: A Câmara encarregou de examinar o lugar mais adequado para a construção de uma ponte pretendida na estrada do Passo dos Negros, vem de solicitar escravos dos senhores charqueadores da margem do São Gonçalo para a obra, a fim de dar conta da estrada e dos trabalhos. Foi no lugar indicado e tratando de examinar a quem mais convinha para a construção da mesma ponte e cuidar dos baixios, ver que caminho ser preferível que é aquele perto a um açude junto do Sr. Manoel Baptista Ferreira, entendendo-se que com, no final da obra, se fará uma praça que servirá para lugar público. Terá a ponte abóbadas com 60 palmos de comprimento por 60 palmos de altura".
      Ata 44 - 14 de fevereiro de 1854 - "A sessão dava o apregoamento em primeira praça e arrematação da obra na estrada do Passo dos Negros".
      Em ata 45 também há referências à ponte, citando apreciação e aprovação de orçamento.
      Na ata de número 46 - 16.02.54 - encontra-se uma curiosidade: apreciação e aprovação de uma praça no Passo dos Negros, sugerindo que seja amurada por causa do cerco das águas. Paralelo ao estudo de dados sobre a ponte concluímos que a região do Passo estava sendo povoada e que havia a preocupação com urbanismo.
      Na ata de 15 de abril do mesmo ano falava-se em "orçada a construção em-1:453$840".
      Em ata de número 56, em 10 de maio de 1854 lê-se: "Providência n° 7. A Comissão a despender mais a quantia de 1:753$40 para a conclusão da ponte da Estrada do Passo dos Negros". Entende-se que sua construção está no fim.
      Não se lê, nas atas seguintes, qualquer referência à ponte. Como não era comum inaugurar-se ponte ou bueiro cujo término esperava-se com ansiedade devido a urgência do uso, acreditou-se que estivesse pronta nestes últimos três meses.
      Conclui-se enfim, que a ponte dos Dois Arcos foi construída em seis meses pelo braço escravo oriundo das charqueadas de Domingos de Almeida, Bernardino Barcelos, João Jacinto de Mendonça e outros.
      Reveste-se de importância a ponte dos Dois Arcos a medida que a olharmos como fator de desenvolvimento na época de primitivos recursos. Ela faz parte dos Caminhos da História como ligação necessária, empenho sistemático, trabalho, economia. Quando charqueada é vista como a gênese do escravismo em Pelotas, e aspecto altamente importante nos estudos etnográficos e antropológicos, e quando por esta razão o Rio Grande do Sul entrou na economia mundial competindo com a descoberta do ouro em Minas Gerais, um simples objeto de travessia, uma ponte, centraliza-se como pivô de toda uma estrutura econômica e social.

PASSO DOS NEGROS
      Passo dos Negros foi porta de entrada do gado oriundo dos Campos Neutrais e Maldonado, e do negro escravo africano, desembarcado dos navios negreiros na barra do Rio Grande. Tanto o gado como a escravaria, ultrapassavam o canal no lugar de travessia a vau, palco de grandes acontecimentos históricos.
      Logo que estabelecidas as primeiras charqueadas, penetrava a tropa, de criação riograndense e platina, pelo lugar do São Gonçalo "onde se abre a boca do seu tributário, o chamado arroio Pelotas". A Coroa, para evitar contrabando, tanto de gado como de negros escravos (considerado mercadoria valiosa), instituiu no conhecido Passo do Neves, um imposto de passagem. O local mudou de nome pela jocosidade popular para Passo Rico em razão do fabuloso rendimento proveniente do fisco.
      A ponte dos DOIS ARCOS constitui-se patrimônio histórico de grande relevância visto que, em sendo testemunha da presença escrava, serviu um período de apogeu econômico do charque na província.

          Nenhum comentário até o momneto.

Atenção: (*) indica preenchimento obrigatório!

Nome completo*:
(sem abreviar)
Profissão*:
Cidade*:    Estado*:
Email*:
(seu email NÃO será divulgado)
Comentário*:

 

[Índice da seção]
Webdesign e hospedagem por AMS Public