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          Século XVIII 
               Depois de 25 anos da sua fundação, a Colônia do  Sacramento ficaria pela terceira vez sob domínio espanhol de 1705 a 1715, quando ao final  deste período seria devolvida à Portugal, conforme o Segundo Tratado de  Utrecht.  Logo após, parte para Colônia o  navio Santo Thomás levando 60 casais portugueses para reforçar o povoamento,  porém em 10 de fevereiro de 1718   a navio naufraga perto de seu destino. Entre os  sobreviventes deste infortúnio estavam Vicente Pereira e Madalena Martins Pinto  de Mesquita, oriundos de Alfândega da Fé, no distrito de Bragança, casados no  ano anterior em Portugal, e futuros avós maternos do Padre Felício.  
                   Na Colônia do Sacramento nasceram todos os filhos  de Vicente e Madalena:  
            - Bernarda Luiza (1721) casou-se (1748) com  Manuel Félix Corrêa (1715), paulista de Guaratinguetá; 
            - Maria (1722) casou-se (1738) com João de  Almeida, português da Vila de Sátão, no distrito de Viseu; 
            - Antônia casou-se com Amaro Dias dos Santos; 
            - Pedro (1729) não casou; 
            - Luiza não casou; 
            - Antônio (1736) não casou; 
            - Ana Josefa, a filha mais moça, nascida em 5  de setembro de 1741, casou-se em 16 de junho de 1773 com Félix da Costa Furtado  de Mendonça, nascido em Saquarema no Rio de Janeiro, era alferes de  ordenanças da Capitania do Rio de Janeiro onde moravam seus pais José Antônio da Costa Soares e Ana Maria Furtado  de Mendonça, futuros avós paternos do Padre Felício. O alferes Félix,  descendente de família abastada, foi à Sacramento em missão militar, onde  conheceu Ana Josefa. Em 1774 nasceu o primeiro filho do casal, Hipólito José da  Costa Pereira Furtado de Mendonça.  
                   Os dois filhos homens tornaram-se padres. Pedro  Pereira Fernandes de Mesquita nascido em 1729, pasou a infância na Colônia. Aos  13 anos estava no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro até 1748, ano em que  se transferiu para a Universidade de Coimbra, onde formou-se em Cânones em  1752. Retornando ao Brasil, ordenou-se padre e foi nomeado pelo Bispo do Rio de  Janeiro como capelão militar da guarnição da Colônia do Sacramento, onde  nascera. Em virtude se sua formação na Universidade de Coimbra ficou conhecido  como Padre Doutor. Sobre o outro filho, Antônio Farias Fernandes de Mesquita  nascido em 1736, não se sabe onde e como ocorreu sua formação escolar. Sabe-se  apenas que em 1761 foi ordenado padre em Buenos Aires, fato  que nos leva a crer que sua juventude e seu sacerdócio inicial tenham se  desenvolvido na Colônia do Sacramento.  
        Enquanto isto, no lado de Espanha, D. Pedro de  Cevallos governador da Província de Buenos Aires de 1757 até 1766, se  distinguiu nas disputas territoriais com Portugal. Sob seu comando os espanhóis  conquistaram em 1763 a  vila de Rio Grande e aqui ficaram até 1776 quando foram expulsos pelo  contingente português sediado em   São José do Norte. 
        Em 1776   a Espanha se dá conta da necessidade em expulsar os  portugueses do Rio da Prata, quando decide pela criação do Vice-Reinado da  Prata, tendo como capital a cidade de Buenos Aires. Como primeiro vice-rei é  nomeado Pedro de Cevallos que monta em Espanha um importante aparato militar e  em outubro inicia seu retorna à Buenos Aires. Pelo caminho marítimo, em  fevereiro do ano seguinte, 1777, apossou-se da Ilha de Santa Catarina; em abril  chega a Montevideu na chefia de um contingente que foi aumentado com guaranis,  totalizando mais de 9 mil homens. Daí, parte por terra e por mar para cercar e  ocupar a Colônia do Sacramento em 2 de junho de 1777. Em seguida, parte para  reconquistar a vila do Rio Grande, perdida para os portugueses em abril do ano  anterior, mas no meio do caminho foi informado do acordo de paz entre Portugal  e Espanha pelo Tratado de Santo Ildefonso. Então muda de rumo e dirige-se para Buenos  Aires, onde tomou posse do cargo de vice-rei em outubro. 
        A partir da ocupação espanhola, a Colônia do  Sacramento foi pilhada, esvaziada e destruída. Os oficiais portugueses com suas  famílias foram embarcados para o Rio de Janeiro; os soldados foram deportados  para a região de Córdoba na fronteira com os territórios indigenas; os paisanos  e suas famílias foram desterrados e dispersos para povoados nas cercanias de  Buenos Aires, porém proibidos de entrarem na cidade; os escravos, declarados  livres por Pedro de Cevallos, se evadiram para Maldonado e arredores de  Montevideu.  
                 Nesta dispersão forçada e apressada do povo da  Colônia do Sacramento, o que aconteceu com as famílias da Costa e Pereira? São  poucos os registros confiáveis. Apenas são feitas conjecturas de prováveis  fatos que justifiquem um encadeamento logico dos acontecimentos conhecidos. 
                   Desta forma, o  alferes Félix da Costa Furtado de  Mendonça, como oficial militar que era, teria sido embarcado com destino ao Rio  de Janeiro. Quanto à sua mulher Ana Josefa, grávida de sete meses e com  seu filho Hipólito José de três anos, foi deportada para Buenos Aires, onde  teria permanecido juntamente com seus irmãos. Pois, em 4 de agosto de 1777,  ainda em Buenos Aires,  Ana Josefa deu à luz seu segundo filho Felício Joaquim.  
           
        Em 1º de outubro de 1777 é assinado o Tratado de Santo  Ildefonso com o objetivo de encerrar a disputa pela posse  da Colônia do Sacramento. Neste acerto, a Colônia do Sacramento ficou com a  Espanha, a Ilha de Santa Catarina foi devolvida a Portugal e todos os  desterrados deveriam ser repatriados. Sabe-se  que o irmão de Ana Josefa, o Padre Doutor, em 1778 ainda estava em Buenos Aires, provavelmente  junto com os demais parentes. Neste ano, o Padre Doutor escreveu em Buenos Aires a  “Relação da Conquista de Colônia”, documento que narra as desventuras do  desterro do povo da Colônia sem fazer referência aos seus familiares. É  desconhecida a data da transferência desta família para Rio Grande, há pouco  tempo reconquistado por Portugal. Das irmãs de Ana Josefa não se tem notícia de  seus destinos.  
          Em Pelotas 
                Com a expulsão  dos espanhóis de Rio Grande em 1776 e a partir do Tratado de Santo Ildefonso de  1777, que reconhecia o domínio espanhol na Colônia do Sacramento conquistada  por Pedro de Cevallos, Portugal desenvolveu uma política de incentivo ao  povoamento e ocupação estratégica do interior do Rio Grande.  
                   Nesta época,  motivado pela perspectiva de paz no sul do Brasil e pela fartura de gado  bovino, o português José Pinto Martins inicialmente radicado no Ceará na  atividade saladeiril vem para Rio Grande e instala em 1780, à margem direita do  Arroio Pelotas, a primeira charqueada industrial que daria início ao  desenvolvimento socioeconômico da região e resultaria mais tarde na urbanização  de Pelotas. Pelo feito, Pinto Martins é considerado o fundador de Pelotas. 
        Rapidamente as  charqueadas se multiplicaram às margens do Arroio Pelotas, do Canal de São  Gonçalo e do Arroio Santa Bárbara impulsionadas pelos pioneiros do povoamento,  muitos dos quais repatriados da Colônia do Sacramento. Dentre os repatriados, o  alferes Félix da Costa Furtado de  Mendonça, acompanhado da mulher Ana Josefa Pereira e seus dois filhos Hipólito  José e Felício Joaquim, e seus cunhados Padre Doutor Pedro Pereira  Fernandes de Mesquita e Padre  Antônio Farias Fernandes de Mesquita.  
        Sabe-se que nesta época Félix juntamente  com seu cunhado, o Padre Doutor, fundaram a estância Sant’Ana, “nos campos da  Vila do Rio Grande, na parte setentrional do sangradouro da Lagoa Mirim”, mais  tarde município de Pelotas, hoje Capão do Leão. Terras concedidas por Dom José  Luís de Castro, 2º Conde de Resende e 5º Vice-Rei do Brasil, conforme registros  em cartas de sesmarias tiradas mais tarde, em 1794. A estância Sant’Ana  confrontava no sudoeste com a Estância do Pavão, uma das sete primeiras  estâncias ao norte do Canal São Gonçalo, concedida a Rafael Pinto Bandeira, o  primeiro caudilho riograndense. A provável estadia de Félix no Rio de Janeiro  teria facilitado a concessão destas terras por reconhecimento do trabalho  desenvolvido pelo alferes e pelo capelão militar na Colônia do Sacramento e de  acordo com o interesse do vice-reinado em povoar o interior do Rio Grande.  
        A 22 de novembro de 1780, quando Hipólito  José contava 6 anos e Felício Joaquim com 3 anos, Ana Josefa tem o seu terceiro  filho, José Saturnino, provavelmente na estância Sant’Ana e registrado na  paróquia do Rio Grande. 
        Estabelecido na região, o alferes Félix foi  designado para comandar uma Companhia de  Ordenanças, a primeira força militar organizada em Pelotas em 1784.  
        O Padre Doutor  foi nomeado 8º pároco e Vigário da Vara de Rio Grande em 1º de setembro de  1783. Deixou a paróquia em 1793 e continuou como Vigário da Vara até 1805. Do  outro irmão de Ana Josefa, Padre Antônio, há registro de que em 1784 estava na  paróquia da Aldeia dos Índios, atual Gravataí, e logo a seguir em 1786 foi  nomeado 4º pároco de Mostardas. Doente, recolheu-se junto a seu irmão em Rio Grande onde faleceu  em 1790. 
        O desenvolvimento dos filhos de Félix e Ana Josefa sempre  contou com sólido apoio intelectual, moral e financeiro do tio Padre Doutor.  Esta formação garantiu destacada participação dos três sobrinhos em suas  diferentes carreiras, pontilhadas por gestos pioneiros, de liderança, aventura  e bravura, lembrando os feitos de seus antepassados na Colônia do Sacramento.  Desta forma, as páginas mais festejadas da saga dos Pereira de Mesquita e dos  da Costa ainda estavam por ser escritas no século seguinte. 
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